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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Sobre o menino que matou o motorista em Fortaleza...

É óbvio que os "justiceiros" sedentos por sangue e que dispensam qualquer raciocínio lógico já estão sedentos por prender, acorrentar, espancar, matar o garoto de 13 anos que matou o motorista de ônibus e deixou o cobrador paraplégico. Revolta? Sim, revolta muito. Revolta muito viver numa das cidades mais violentas do mundo, numa das cidades mais desiguais do mundo, numa cidade onde os direitos mais básicos de uma pessoa pobre (saneamento, educação, saúde, lazer, segurança, transporte de qualidade, alimentação, etc etc) são desrespeitados desde o seu nascimento. Sim, 2 cidadãos de bem foram agredidos, sendo que um morreu. 2 pessoas humildes e que certamente tem também seus direitos desrespeitados. Mas querem matar este menino? Desculpem, chegaram tarde, "justiceiros". O Estado já o matou desde que nasceu. Sua vida já estava perdida. Dirão "Ah, mas eu nasci pobre ou conheci fulaninho que nasceu pobre e não virou marginal". Sim, você ou o fulaninho fazem parte de uma maioria de pessoas que nascem, crescem e vivem pobres e que não se envolvem em atividade criminosas. E sim, tem gente que pode nascer em berço de ouro mas tem transtornos tão grandes que se envolverão em crimes totalmente bárbaros, o que é uma minoria. Mas não podemos negar que muitos (a maioria) dessas crianças, adolescentes que já nasceram mortos, invisíveis e que acabaram se envolvendo em atividades criminosas buscam no crime uma forma de ser, de TER (algo que nossa sociedade supra-valoriza), são coagidos desde a mais tenra infância a entrar nesse mundo marginal; sim, muitos tem forças para resistir. Mas uma CRIANÇA que não teve força de resistir? Mata-se? Fica aqui a reflexão. Certamente este menino já está morto; antes dos 18 anos ele tem sangue nas mãos, nos olhos; ele está sendo condenado pela sociedade que sequer sabe sua história e o que ele já passou; ele não terá oportunidade de viver um mundo bom, que certamente ele nunca viveu; ele morrerá nas mãos do traficante, da polícia ou dos "justiceiros" de plantão. Eu estou triste por todas as vidas afetadas nessa história; a do menino que nunca teve nada nem nunca foi ninguém e que já está morto; a do motorista que trabalhava duro, com salário baixo e sem segurança e que teve sua vida interrompida; a do cobrador que, nas mesmas condições do motorista, terá sua vida limitada com muita coisa para superar pelo resto de sua vida. Que possamos lutar pelos nossos direitos, pelos direitos de todos, do "cidadão de bem" e do "marginal" (indivíduos que vivem à margem, ou seja, excluídos dos direitos sociais básicos). E VIVA A COPA! QUE VENHAM INVESTIMENTOS AOS MILHÕES! O BRASIL VAI CRESCER! O BRASIL VAI VENCER! #SQN

Para Reflexão, fica em texto de Eduardo Galeano:

As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns em deixar a pobreza; que em algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.

Os ninguéns: os filhos de ninguéns, os donos de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos.
Que não são, embora sejam.
Que não falam idioma, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não têm cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na História Universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.