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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Raulzito pra sexta!

Gente

Composição: Raul Seixas e Claudio Roberto

Gente é tão louca
E no entanto tem sempre razão
Quando consegue um dedo
Já não serve mais, quer a mão
E o problema é tão fácil de perceber

É que gente
Gente nasceu pra querer
Gente tá sempre querendo
Chegar lá no alto
Pra no fim descobrir
Já cansado que tudo é tão chato
Mas o engano é bem fácil de se entender

É que gente
Gente nasceu pra querer
Em casa, na rua, na praia, na escola ou no bar... ah!
Gente fingindo, escondendo seu medo de amar...oh!
Gente é tão louca
E no entanto tem sempre razão
Quando consegue um dedo
Já não serve mais, quer a mão
E o problema é tão fácil de perceber
É que gente
Gente nasceu pra querer, ok, gente, gente
Em casa, na rua, na praia, na escola ou no bar... ah!
Gente fingindo, escondendo seu medo de amar...oh!
Gente é tão louca
E no entanto tem sempre razão
Quando consegue um dedo
Já não serve mais, quer a mão
E o problema é tão fácil de perceber
É que gente
Gente nasceu pra querer
É que gente
Gente nasceu pra querer...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Policiamento e Violência

As ondas de crime e violência com certeza, aumentando ou não, têm ganhado maior visibilidade com a escolha do Brasil para Copa do Mundo e Olimpíadas. A maior cobrança da mídia nacional e internacional, que dá grande atenção ao medo da população, faz com que governos aumentem o número de policiamento e repressão ao crime, organizado e desorganizado.
São ações que visam repreender a violência, mostrar maior ostensividade por parte da segurança pública. Essas ações realmente combatem a violência? Ou elas apenas remediam (ou aparentam remediar) o caos vivido pela sociedade brasileira? Meu questionamento não é inédito e sei que para muitos esse texto pode ser mais do mesmo. A resposta as perguntas, desta forma, são óbvias: respectivamente: não e sim.
O aumento do policiamento, prisões constantes de pequenos traficantes (ou grandes), ladrões de banco ou de galinha, podem até impressionar a população, dando a estes a sensação de ação e de maior segurança. Contudo, a violência continua crescendo; mais e mais adultos e jovens a praticam, entrando cada vez mais cedo para o crime, que se torna um ciclo vicioso, e muitas vezes, a opção de vida mais lucrativa e rápida pra quem cresceu numa comunidade sem oportunidades.
Só há uma forma de realmente combater a violência e esta forma é o trabalho de bases. Não é dar remédio pra doença ("polícia para quem precisa, polícia pára quem precisa de polícia"); e sim, evitá-la. É necessário um combate à pobreza (veja bem, à pobreza, e não aos pobres, como vemos com frequência), incansável, incessante. E esse também não deve ser através de ações remediativas. É necessário mexer com a estrutura: educação, saúde, saneamento, emprego, lazer, distribuição de renda, tudo com qualidade, com disposição e linguagem acessível a todos, principalmente nas comunidades mais carentes, que são aquelas que mais engrossam os presídios brasileiros. Mas só pobre comete crime? Veja bem, rico também comete, e muito, muitas vezes crimes muito mais horrendos, até porque não foram criados com as privações de viver numa favela; contudo, as raras vezes que são presos (se prendesse todos, Brasília, por exemplo, teria que ser transformada numa enorme prisão), ficam presos por pouco tempo, e na maioria das vezes, em cela especial.
Então, além de mexer na estrutura das políticas públicas (serviços sociais) é também urgente humanizar (na prática e não na teoria) o sistema prisional. Que condição tem um ser humano de se recuperar dentro de um presídio super lotado, que reproduz e agrava a violência que este ser humano viveu fora dele, que não tem condições de higiene, alimentação, que não tem programas socioeducativo, que trata pessoas pior do que um animal de rua? Humanizar, recuperar, ampliar espaços, ampliar serviços, fazer com que a pessoa, se sinta no presídio, como um ser humano que errou, mas que pode ter chances de seguir adiante e viver numa sociedade justa, que o aceitará como alguém que pagou pelo seu crime e agora não voltará a cometê-los. Sendo assim, a mudança, como já apontado, deve ser dentro e fora, deve ser de base, deve agir desde o nascimento do João até a velhice da Maria, para assim, ter uma sociedade sem um índice alarmante de violência.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O despertar do pensamento sociológico

Este breve trabalho foi entregue no dia 01/07/2005, numa disciplina de sociologia, nos tempos da minha graduação e, trago aqui, basicamente sem revisão, como, curiosidade (pelo fato de tê-lo encontrado sem querer enquanto procurava outras coisas), como informação e como ilustração do despertar sociológico numa estudante de ciências sociais, como o início das reflexões. Ele está crú, a bibliografia está incompleta, basicamente não o revisei (por falta de tempo), então espero tolerância com o que foi escrito há 5 anos atrás, quando eu era ainda mais jovem.

O espaço e a cultura local diante do advento da globalização

Este trabalho visa mostrar as transformações que a globalização implicou na cultura compreendida no âmbito do local. Na sociedade globalizada as culturas locais parecem perder cada vez mais seu espaço diante da homogeneização dos processos culturais. A autonomia, a tradição, vem perdendo espaço diante da mundialização da cultura, usando o termo de Renato Ortiz.
Essa homogeneização é real? A cultura local esta realmente sendo perdida no processo de mundialização da cultura? Como ocorreu (ou ainda ocorre) esse processo? São essas perguntas que procurarão ser esclarecidas no presente trabalho.

O conceito de cultura local ganha força no século XVIII, com o advento do conceito de moderno de nação. A nação moderna busca trazer uma integração das diversidades, e não uma homogeneidade cultural. Porém esta pluralidade deve ser mantida sob o domínio de uma hierarquia. Com isso tenta-se buscar uma idéia de totalidade nacional. A nação não deve ser confundida com o Estado, a máquina de poder político-administrativo, sendo imposto por coerção e força. A nação busca se articular numa “unidade mental e cultural”, como diria Mauss, entre seus habitantes; ela propõe um ideal comum partilhado por todos. Dessa idéia de ideal, de consciência coletiva, surge também a idéia de cidadania, onde os povos sentiriam a necessidade de uma identidade nacional. Para a criação desse desejo de cidadania, para instituir esses ideais sociais, a nação se valeu de muitas técnicas, como: a criação de símbolos nacionais, de uma língua nacional (no caso dos países plurilinguísticos), contando também com a escola, a imprensa e os meios de transporte para a formação das nacionalidades. Foi através da modernidade dos meios de comunicação que uma região pôde entrar em contato com outra, que antes pareciam muito distantes. Esses formam elementos essenciais para a criação, propagação e discernimento de uma cultura local, pretendendo uma unidade nacional. No Brasil temos uma grande dificuldade em perceber essa unidade. Percebe-se com mais facilidade sentimentos regionalistas, “bairristas”, onde cada região procura cultivar suas tradições (mesmo com as reinterpretação, que pretendo discorrer depois). Acredito haverem três fatores que contribuíram muito para esta diversidade: a extensão do território do país; o fato de ser um país colonizado, e depois trazendo, assim, imigrantes de diversas partes do mundo, como suas tradições já configuradas; e também o desenvolvimento tardio dos meios de transporte e comunicação, cujo alguns lugares ainda tem grande dificuldade de acessos.
A partir do advento da modernidade, da industrialização e, principalmente, do grande desenvolvimento da comunicação, o local, o espaço-tempo, tornam-se indefinidos, a reestruturação das relações sociais e dos contextos territoriais. Os espaços são diminuídos através da construção das ferrovias e mais tarde, de aviões. Onde antes se demoravam meses para viajar a cavalo, na era moderna demora-se dias e na atualidade (na pós-modernidade, como diriam alguns) demora-se apenas algumas horas. O tempo também é diminuído. Com o advento do rádio, televisão, internet, respectivamente, as informações começam a ser simultâneas aos acontecimentos. Sabe-se do que está acontecendo (ou até mesmo do que pode estar para acontecer) do outro lado do mundo, em questões de segundos.
Diante disso, o conceito de nação vem se enfraquecendo. A cultura local vem perdendo força diante das propagandas, do consumo de uma homogeneização. Cria-se um idealismo, uma necessidade, de estar inserido no mundo, de fazer parte de uma cultura global. As tradições começam a ser questionadas, em muitos lugares não se admite mais uma verdade formular (inquestionável) como forma de justificativa. As nações com grande poder tecnológico, que detém grande parte do capital, criam um discurso político com uma argumentação cultural correspondente, que supõem o fim das diversidades nacionais, tentando convencer que a globalização é o único horizonte natural para os povos do planeta. Ela busca, de acordo com Cesnik e Beltrame, uma dominação cultural, através daqueles que detém o poder, ou mais precisamente, através dos valores norte americanos de viver. Essa dominação se daria através de programas de televisão, através da música, da imposição do idioma diante do mercado de trabalho, dos fast-foods, entre tantos outros disseminadores de valores como consumismo e individualidade defendidos pela cultura norte americana. Tem-se às vezes a impressão de que o ser aos poucos se transforma no ter.
Porém, mesmo que se pretenda, a globalização está longe de conseguir uma homogeneização cultural. Ao contrário, provoca cada vez mais grandes contrates culturais, sócio-econômicos, políticos entre os diversos povos do planeta. Nem todos estão inseridos nos valores, nem todos podem TER. A informação não chega a todos, a comida não chega a todos, as técnicas, o poder de consumo. “O mundo está dividido entre turistas e vagabundos”, como diz Zygmunt Bauman , ou seja, entre aqueles que estão inseridos na globalização e aqueles esquecidos, deixados de fora do sistema. Nestes locais, ainda se encontra uma grande resistência da cultura local, talvez uma forma de resistir ao sistema excludente.
Mas há também uma influência positiva da globalização sobre a cultura global. A globalização desloca à esfera da cultura local de espacial para uma esfera social. Diante deste sistema de rápidas informações, povos de mesmas culturas (como emigrantes, por exemplo) podem manter e estar em contato com suas culturas locais podem transpor as distâncias.
Essa rápida comunicação também permite uma organização entre grupos de diversas culturas, uma troca de conhecimentos e formação de laços que podem servir como resistência à própria dominação cultural. Esses grupos podem se utilizar das armas da própria globalização para lutar contra a sua premissa mais preocupante, a homogeneização cultural.
Outro fator importante ainda a ser relatado são as relações que o local passa a ter com o global diante do “fenômeno” da globalização. Partindo da perspectiva de A. Giddens, a globalização, como foi dito, não deve ser visto apenas como um mal para a humanidade e para a diversidade. De acordo com Giddens, vivemos numa sociedade desmantelada, onde a sociedade global prevalece sobre a local. Os paradigmas são todos regidos por um “mega paradigma”, que tem sempre sua base na sociedade global. Vivemos numa sociedade de incertezas, de neuroses. As nossas ações podem ter dimensões antes inimagináveis.
Como diz o autor, não é a penas o global que influencia no local. O local também pode influenciar no global. Nossas ações cotidianas podem desencadear em ações em grupos, e de repente desencadear numa ação mundial. A rapidez das informações, a transformação do tempo e do espaço, faz com que pequenas sejam difundidas e aderidas em diversas partes do globo. Um desses exemplos é o Fórum Social Mundial. Uma idéia que começou com um pequeno grupo de pessoas, em Porto Alegre, e rapidamente se espalhou pelo mundo, tornando-se o maior evento social do planeta. Tanto que agora, houve uma reformulação, e serão realizados anualmente Fóruns Regionais, entre países de uma mesma região, de um mesmo continente. Este é apenas um exemplo, entre tantos outros.
A tradição também não foi totalmente desfeita diante da sociedade global. Ela foi reformulada. Suas verdades não são mais inquestionáveis, agora procuram se basear em verdades proposicionais, ou seja, baseadas em algumas justificativas (não procurarei discutir a natureza dessas justificativas). Percebe-se até um diálogo internacional sobre essas tradições reformuladas, como são os casos dos Centros de Tradições Gaúchas em Roraima, EUA e Japão, por exemplo, ou o caso, dos decentes de imigrantes alemães e italianos que viajam para Itália ou Alemanha para mostrar como foi mantida a tradição fora do local. Esses países buscam um resgate do passado entre os imigrantes brasileiros, pois são tradições que não são mais mantidas nesses países.


Conclusão:

Em vista de todos os fatores apresentados acima, pode-se perceber, a princípio, um desmantelamento, um enfraquecimento da cultura e do espaço local, diante das propostas de consumo e “homogeneidade” da globalização. A globalização traz em si uma propaganda de individualidade, do tipo “compre, seja o que quiser”. Diante do conceito de supermercado cultural de Gordon Matthew o individuo, esteja onde for, pode formar sua própria identidade. As culturas locais perdem suas peculiaridades para dar lugar à miscigenação cultural, feita através das escolhas individuais de quem tem poder de consumo, de quem pode estar dentro.
Por sua vez, a globalização apresenta-se assim como um sistema de exclusão dos mais fracos, daqueles que não tem grande força, capital ou tecnologia para manter uma cultura local. Porém, como se pode ver, é possível usar das facilidades de comunicação para criar armas para resistir a esse sistema, a de dominação, através da propagação da cultura local para os mais diversos pontos do globo.
Vejo como muito importante uma resistência das culturas locais diante da homogeneidade proposta por este sistema. É claro, em muitos casos, as culturas locais sofrem grandes reformulações, muitas vezes positivas. Isso é um fenômeno natural, entendo-se que a cultura não é estática e sim, dinâmica. Mas é necessária uma resistência, para que alguns valores, como humanidade, solidariedade, sejam mantidos (ou criados!) e não nos percamos diante de uma banalização das desigualdades sociais, uma individualidade consumista e doentia, que transforma o homem em escrevo das coisas que tem e fecha seus olhos para o que há além do poder de consumo. De forma um pouco utópica, acredito que devamos usar das possibilidades implantadas pela globalização para tentar buscar uma unidade, não cultural, mas sócio-econômica entre as diversas culturas, sem desrespeitar os limites de cada local e esse respeito deve estar também, na esfera do individual, deve-se, antes de tudo, aprender a conviver com o outro, e não apenas se impor sobre ele.


Bibliografia:

Cenik, Fábio de Sá. Globalização da Cultura. Fábio de Sá Cenik, Priscila Akemi Beltrame. Barueri, SP: Manole, 2005.
Fim de Século e Globalização. Org. Milton Santos, Maria Adélia A. de Souza, Francisco Capuano Scarlato, Mônica Arroyo. São Paulo, SP: Annablume, 4a ed.

Featherstone, Mike. Cultura Global: Nacionalismo, globalização e modernidade. Trad. Attílio Brunetta. Pet´rpolis, RJ. Ed. Vozes, 2001.

Ortiz, Renato. Mundialização e Cultura. São Paulo, SP. Ed.Brasiliense, 1994.

Conteúdos e autores discutidos nas disciplinas: Temas Sociológicos Contemporâneos e Globalização e Cidadania.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Bem Vindo de volta, Querido Sol!

Oração ao Sol


"Sol vivo, quando sobes ao céu todas as manhãs,

Na tua beleza incomparável sobre a terra,

Estás longe mas teus raios iluminam os campos...

Que tu concedas longa vida ao povo da terra,

Até que as montanhas se movam,

E fiquem brancas as penas negras dos corvos.

Tu és Rá, a divina estrela que ilumina o planeta Terra"

Fonte: http://ser-autotelica.blogspot.com/2006/10/orao-ao-sol.html


Como é bom me refestelar ao sol.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Lei antihumanitária em Uganda






Como muitos sabem, o país de Uganda está tentando aprovar uma lei que criminaliza a homossexualidade com prisão perpétua e pena de morte. A propaganda desta semana, do jornal Fantástico, rede Globo, diz que este irá falar sobre esta polêmica lei que está prestes da ser votada. Polêmica? Esta é uma palavra usada por aqueles que tem medo de tomar uma posição, por quem quer abrandar este absurdo. Criminalizar a homossexualidade, e pior ainda, punir mesmo com a morte tendo apoio governamental é mais do que polêmica, é antihumano; esta lei devia ser chamada de "Crime contra a humanidade"; vai contra os direitos humanos; contra todos os tratados internacionais; são muitos passos para trás depois de tanta luta pela igualdade e conquistas de direitos. É uma lei, não polêmica, mas absurda! É necessário que Onu, Ongs, países democráticos, movimentos sociais e nós mesmos, nem que seja através de abaixo assinados, tentemos intervir neste absurdo. Homossexualidade não é crime nem doença. É apenas mais uma diferença de gênero. Sim a liberdade e ao direito de amar, casar, adotar, se expressar, como tem qualquer outro ser humano. Estes devem ser direitos de todos, indiferente de sua sexualidade. Domingo passado, no trem, entre Sapucaia e São Leopoldo, havia um casal de meninas expressavam livremente seus sentimentos, com abraços e beijos na boca, assim como eu tenho toda a liberdade de fazer em público com meu namorado sem causar aborrecimento a ninguém. Parabéns a elas, que enfrentam o preconceito nesta sociedade tão cheia dele. E que lutemos para quem cada vez mais se tenha direitos e não, como Uganda pretende, que se recue nestes direitos. Sim a homossexualidade, sim a liberdade. Não a esta lei horrível, criminosa, absurda e retrógrada de Uganda.
Saiba mais e Assine:



quinta-feira, 22 de abril de 2010

Mallu Magalhães em dia de chuva...

A voz dessa menina me parece perfeita pra um dia de chuva...
E eu simplesmente adoro a letra dessa música:

Tchubaruba Mallu Magalhães

After all the weekend, in a supposed calm Sunday afternoon
At the moment she could see the moon
When I saw her she was just crying, under my favorite tree
So I talked to her and I was trying, to show her what she couldn't see
Behind the flowers in a light she found the sun
Behind the sad I showed her that life is really fun
With some nature together we admire the birds
Collected some different leaves
We realized how amazing the world is...

If you come over I will say tchubaruba
If you are down, Yes I will say tchubaruba,
If you don't know where I am, I'll be tchubirubing,
If you don't know who you are
You can tchubada, you can tchubaduba

Hey, ha, ho
There's no reason to hide
I could be kind a guide
I could be by her side

Yey, ya yo
She could be just with me
I would be grateful
I would feel... Yes I would be really cool...


If you come over... (refão)
Hey ha ho ....
If you come over... (refão)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Ideologias

Palavras de João Pedro Stédile (MST) em entrevista junto a Débora Lerrer:

"Queremos mudar a sociedade, queremos um novo modelo agrícola,
queremos uma sociedade onde todos tenham trabalho. Nós sabemos que
essas mudanças não são obtidas só com a posse da terra. Quando dizemos
que o modelo de reforma agrária necessário não se relaciona mais só com
terra, muito ficam bravos. Nós queremos agroindústria, escola, um novo
pacote tecnológico. Ah...então vocês estão politizados! Não, somos
burros ... Isso é a leitura tucana da ideologia da elite. Ela reflete o
preconceito de que pobre pode lutar pelas suas necessidades básicas, mas
não pode ter ideologia. É um preconceito ideológico e é uma humilhação,
pois só porque a pessoa é pobre de bens materiais não tem direito a
pensar em outras coisas? Não tem direito a disputar uma política? Então o
título eleitor é só para você votar, mas não para discutir projeto com a
sociedade? No fundo, esse mesmo preconceito revela a forma como as
elites fazem política. Só eles podem decidir os destinos do país. Os
pobres são para trabalhar."

* Fonte: Lima, Edvaldo Carlos de. OS MOVIMENTOS SOCIAIS DE LUTA PELA
TERRA E PELA REFORMA AGRÁRIA NO PONTAL DO PARNAPANEMA (SP):
Dissidênciase Dinâmica Territorial. Dissertação de Mestrado. Geografia. Unesp. 2006 (p.29).


Sexualidade e Deficiência

Notícia bem interessante e importante de ser divulgada e debatida...

Pessoas com deficiência têm direito de exercer sexualidade, mas ainda há impedimentos na sociedade, avaliam participantes de seminário em SP

Coordenadora do Instituto Amankay, Marta Gil, diz que há falta de dados sobre pessoas com deficiência e portadoras do HIV

14/04/2010 - 22h

Uma pessoa com deficiência tem direito a exercer a sexualidade, mas pode enfrentar preconceitos e não ter acesso a dados sobre prevenção do HIV/aids por conta da sociedade. Esta foi uma das constatações de participantes do seminário “Ações e Reflexões sobre aids e deficiência: diferentes vozes” na zona leste de São Paulo. “Inclusive, ainda faltam dados envolvendo HIV/aids e deficiência. Quantas pessoas com essas características têm o vírus?”, criticou a coordenadora do Instituto Amankay, Marta Gil. A iniciativa de realizar o evento é da ONG com apoio do Programa Estadual de DST/Aids.

De acordo com o Censo do IBGE de 2000, 14,5% da população brasileira têm algum tipo de deficiência, ou seja, cerca de 24 milhões de pessoas. Mesmo assim, segundo Marta Gil, a visibilidade desses cidadãos na sociedade é baixa. “A nossa cidade nem sempre permite a acessibilidade em lugares públicos, o que deixa os indivíduos aprisionados em alguns casos.”

A falta de acessibilidade traz outro problema: a falta de acesso à informação. A psicóloga do Amakay Fernanda Sodelli contou histórias de pessoas com deficiência. Em alguns casos, ficam isoladas e sob proteção da família, o que pode de certa forma prejudicá-las. “Muitas mães podem dizer, meu filho ou minha filha não faz sexo. Portanto, não necessita saber sobre isso. Mas, no momento que esse descobre a possibilidade e consegue uma paquera correspondida, não exige nada da outra pessoa, muito menos o preservativo. A relação acaba sendo uma submissão”, explicou.

“As escolas também algumas vezes encaram o tema com certo preconceito e dizem que quem deve ensinar sexualidade são os pais. Mas, o fato é que invariavelmente, em algum momento, todo mundo descobre o sexo”, acrescentou o representante da Secretaria de Estado de Direitos da Pessoa com Deficiência Daniel Monteiro que também é deficiente visual. “Neste momento que é importante incentivar a descoberta, mas também abordar o tema prevenção.”

A recente onda de escândalos de pedofilia envolvendo a Igreja Católica também serviu como gancho para o seminário. Segundo Marta Gil, quando uma criança com deficiência se isola demais, sem motivo aparente, o caso necessita de uma investigação mais profunda. “Se estes casos atuais na mídia geralmente são abafados, imaginem quando envolve esta parte da população”, disse Marta Gil.

Falta de Informação

A coordenadora do Instituto Amankay, Marta Gil, também criticou a falta de informação envolvendo HIV/aids e deficiência. “Quantas pessoas com essas características têm o vírus?”

O sociólogo Cláudio Monteiro do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo explicou que a aids também pode deixar sequelas, tornar uma pessoa deficiente. “Isso dificulta um pouco para apurar quantas têm HIV.”

“Mas não é impossível, necessitaria uma pesquisa mais aprofundada”, rebateu Marta Gil.

O ativista do Instituto Vida Nova Américo Nunes também lembrou que em 2009 o Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais lançou edital de pesquisa na área, com investimento de R$ 500 mil, e mesmo assim não recebeu nenhuma proposta. “Faltou mais divulgação por parte do Ministério”, disse Marta Gil.

“Falta também uma posição mais política das ONGs nessa área também”, afirmou Américo Nunes em entrevista.

O evento contou com a presença de estudantes da Universidade Cruzeiro do Sul, além de gestores e ONGs.

“A ideia foi trazer reflexões sobre o tema fora de bairros centrais de São Paulo”, conta Marta Gil. Segundo ela, a atividade deve ser repetida no próximo dia 27 em Santo Amaro.


Rodrigo Vasconcellos

Dica de Entrevista

Instituto Amankay (blog - www.aidsedeficiencia2010.blogspot.com)

Tel.: (0XX11) 5531-8895

terça-feira, 20 de abril de 2010

Nei Lisboa, tudo de bom...


Acompanhe: http://www.neilisboa.com.br/





Biografia

Nei Lisboa é gaúcho de Caxias do Sul e reside emPorto Alegre desde os seis anos de idade, tendo vivido largas temporadas em outras capitais brasileiras e também nos EUA, onde concluiu o segundo grau. Mas sua ligação mais forte é mesmo com a capital gaúcha, onde mantém um público fiel, e mais especificamente o bairro Bom Fim, onde cresceu e morou por mais de vinte anos. É irmão mais jovem – entre sete – de Luiz Eurico Tejera Lisbôa, primeiro desaparecido político brasileiro cujo corpo pôde ser localizado, no final dos anos 70.

Nei tem nove discos lançados ao longo de mais de três décadas, além de dois livros: uma coletânea de crônicas e um romance, este editado no Brasil e na França. A paixão pela música popular surge na infância – aos oito anos é aluno do Liceu Musical Palestrina – e se consolida ao ingressar, em 1977, no curso (inconcluso) de Composição e Regência da UFRGS.


Carreira artística

Sua carreira artística inicia em 1979, com os espetáculos "Lado a lado" e "Deu pra ti anos 70", em parceria constante com o guitarrista Augusto Licks.

O primeiro disco, "Pra viajar no cosmos não precisa gasolina", é uma produção independente de 1983. Um ano depois, em 1984, por intermédio de uma gravadora regional (ACIT), ele lança seu segundo disco, “Noves fora”. Ao final de 1986, Nei assina contrato com a gravadora EMI-Odeon, que resultaria em dois discos: “Carecas da Jamaica”, de 1987, pelo qual recebe o Prêmio Sharp de revelação pop/rock; e “Hein?!”, lançado em 1988, obra que também marca sua trajetória de forma indelével. (Ambos os discos foram relançados em CD pela EMI, em 1999.) Em 1990, parte para sua primeira incursão na literatura, o romance “Um morto pula a janela”, lançado em 1991 pela editora Artes & Ofícios, e relançado pela editora Sulina em 1999, com uma tradução francesa editada pela L’Harmattan em 2000.

Em 1993, depois de algumas temporadas entre Porto Alegre e Montevidéu, Nei grava ao vivo no Theatro São Pedro o disco Amém, reunindo canções próprias e clássicos da música popular uruguaia, acompanhado por nove músicos de ambos os países. É seu primeiro trabalho a sair simultâneamente em vinil e CD, distribuído pela Som Livre. (O CD é relançado em 1999, pela Paradoxx.)

Nei volta ao disco em 1998, e excursiona pelo sul do Brasil embalado pelo sucesso de “Hi-fi”, um apanhado de clássicos da música pop e do repertório folk que influenciou o seu início de carreira nos anos 70. Lançado pela Paradoxx e gravado também ao vivo no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, o CD provoca uma onda de relançamentos dos trabalhos anteriores.

Em 2000, Nei retoma a composição, e “Cena beatnik”, seu primeiro trabalho em estúdio depois de mais de uma década, é lançado em maio de 2001 pelo selo Antídoto, da gravadora ACIT. Em 2002, bandas e artistas gaúchos unem-se em um CD tributo, intitulado “Baladas do Bom Fim” e lançado pelo selo Orbeat, com releituras de quatorze músicas do compositor.

As músicas de Nei participam também da trilha de vários filmes da cinematografia gaúcha, como “Deu pra ti anos 70”, “Verdes anos” e “Houve uma vez dois verões”. Em “Meu tio matou um cara”, de Jorge Furtado, um dos principais temas é a canção “Pra te lembrar”, na interpretação de Caetano Veloso, música que também faz parte do CD "Relógios de Sol" – lançado em julho de 2003 pelo selo Antídoto.

Em 2005, a cantora carioca Simone Capeto lança o álbum “Bom futuro”, interpretando exclusivamente canções de Nei. Também é interpretado por Cida Moreira, Ná Ozzetti e por Zélia Duncan, que inclui a canção “Telhados de Paris” em seu mais recente CD (“Pelo prazer do gesto”, 2009).

O mais recente CD de Nei, “Translucidação”, lançado ao final de 2006, é uma produção independente distribuída pela ACIT e em boa parte disponibilizada pelo artista em seu site oficial.

Em 2007, Nei volta à literatura, reunindo crônicas suas publicadas ao longo da década na imprensa gaúcha sob o título “É Foch!”, lançamento da editora L&PM, indicado ao Prêmio Açorianos de Literatura no ano seguinte.

Celebrando em 2009 trinta anos de carreira, Nei revisita no palco o repertório de todas essas diferentes épocas, percorrendo o sul do país, e prepara para o segundo semestre de 2010 a circulação desse espetáculo por nove capitais brasileiras, projeto contemplado pelo Programa Petrobras Cultural.


Discografia

  • Pra viajar no Cosmos não precisa gasolina (1983)
  • Noves Fora (1984)
  • Carecas da Jamaica (1987)

  • Bibliografia

    • Um Morto Pula a Janela (romance, ed. Artes & Ofícios, 1991)
    • É Foch! (crônicas, ed. L&PM, 2007)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Criminalização dos Movimentos Sociais


Entrevista: a criminalização dos movimentos sociais

“Quando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra aparece brandindo suas foices e facas

e ocupando latifúndios e prédios públicos, imediatamente a “opinião pública” reage dizendo que isto

é uma “violência”. Mas essa mesma “opinião pública” não percebe ou não quer perceber que por

trás disto que chama de violência há uma brutalidade muito maior: a de deixar milhares de pessoas

sem terra para plantar, sem alimento, engrossando os penhascos e periferias das grandes cidades.

Tornou-se normal pensar que milhares de pessoas não tenham o que comer, o que vestir ou onde

morar”,

A afirmação é de José Carlos Moreira da Silva Filho, professor do PPG em Direito da Unisinos.

Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, o pesquisador comenta a relação estabelecida

entre o Poder Público e os movimentos sociais, e destaca o surgimento de ativistas que

apresentam como novidade uma “afirmação positiva da diferença”, legitimando a alteridade das

minorias. José Carlos Moreira da Silva Filho é graduado em Direito, pela Universidade de Brasília (UnB),

mestre, pela Universidade Federal de Santa Catarina, com a dissertação O pluralismo jurídico,

os novos movimentos sociais e a exterioridade em Dussel, e doutor, pela Universidade Federal

do Paraná (UFPR).

Atualmente, também é conselheiro da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - O senhor afirma, no artigo “Criminologia e alteridade: o problema da

criminalização dos movimentos sociais no Brasil”(1), que a criminalização dos

movimentos sociais é um reflexo da dificuldade em se aceitar os limites existenciais,

revelando a arrogância do logos ocidental e a negação da alteridade. Quais são

as raízes desse sentimento de negação dos movimentos sociais? Por que a maioria

da população brasileira e os setores conservadores da sociedade negam a alteridade

das minorias?

José Carlos Moreira da Silva Filho - Há uma relação direta entre o projeto de predomínio

da razão ocidental (seus modelos sociais e pretensões de totalidade e univocidade, quer

da soberania nacional, da razão científica ou do modelo econômico capitalista e

desenvolvimentista) e a dificuldade que temos em lidar com o diverso e o diferente, inclusive

com relação ao que há de estranho em nós mesmos. É difícil admitir nossa finitude e,

conseqüentemente, admitir que não temos condições de descrever e compreender tudo.

Que assim como a morte limita nossos projetos e possibilidades e o nascimento nos impõe

um direcionamento prévio que não é da nossa escolha, as diferentes pessoas e grupos sociais

não podem caber em nossos conceitos, classificações e estereótipos

(nem nós mesmos cabemos). Sempre permanece algo indecifrável e que não pode ser

aprisionado na palavra. O problema é que admitir isto pode trazer uma grande sensação

de insegurança e uma humildade social e cognitiva que não cabe em nossos milenares sonhos

de domínio e grandeza.

Contudo, se refletirmos bem, notaremos que a democracia visada em nossa Constituição,

com a expressão “Estado Democrático de Direito”, reside em uma inerente incerteza, em

um desafio diuturnamente renovado e sem garantias de construir o espaço comum a partir

das diferenças e da pluralidade que compõem a nossa sociedade. Permanecemos,

porém, apegados à idéia de que temos um projeto único, a partir do qual fica fácil e

simples dizer quem é bom ou quem é mau, quem é normal ou quem é marginal.

Assim, tudo o que destoa muito do padrão socialmente imposto e regurgitado pelo

senso comum midiático se apresenta como algo perigoso, pois desafia as verdades

estabelecidas e denuncia as suas insuficiências. Quando o Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra aparece brandindo suas foices e facas e ocupando latifúndios

e prédios públicos, imediatamente a “opinião pública” reage dizendo que isto é uma

“violência”. Mas essa mesma “opinião pública” não percebe ou não quer

perceber que por trás disto que chama de violência há uma brutalidade muito

maior: a de deixar milhares de pessoas sem terra para plantar, sem alimento, engrossando

os penhascos e periferias das grandes cidades. Tornou-se normal pensar que milhares

de pessoas não tenham o que comer, o que vestir ou onde morar. Por quê? Porque não

nos sentimos responsáveis ou não queremos nos auto-incriminar. Porque é muito mais fácil

criminalizar o outro que denuncia a injustiça e a perversidade do nosso modelo social.

É muito mais fácil criminalizar os negros do que reconhecer que a nossa sociedade

cresceu às custas do sangue dos seus antepassados; criminalizar os indígenas e dizer

que eles são uma ameaça à soberania nacional do que reconhecer que o Brasil de hoje

está erguido sobre os corpos de etnias que simplesmente desapareceram da face da terra;

criminalizar os “esquerdistas” e comunistas do que reconhecer que precisamos pensar em

um modelo social que consiga incluir sem excluir, que leve em conta projetos e sujeitos

coletivos. O conceito de crime serve como um estigma que isola e demoniza o que no

fundo diz respeito a nós mesmos. É como se pudéssemos nos sentir purificados com o

extermínio daquilo que seria um lado ruim nosso e que projetamos sobre determinados

grupos e pessoas.

IHU On-Line - Em que sentido os discursos estabelecidos no país ao longo dos anos

contribuíram para a construção de uma imagem pejorativa e negativa dos

movimentos sociais?

José Carlos Moreira da Silva Filho - O que podemos chamar de espaço público no Brasil vem

de uma tradição privada e patrimonialista que nos remete às Casas-Grandes e às oligarquias rurais,

às relações de apadrinhamento e aos nepotismos, à idéia de que os setores populares não devem

se organizar, mas sim obedecerem às ordens do patrão ou do doutor.

As grandes transformações estruturais da sociedade brasileira geralmente ocorreram pelo alto.

Foi assim com a independência, com a república, com a industrialização. É claro que sempre

houve pressões e reações populares, mas acabaram sendo estigmatizadas como baderna,

sublevação ou coisa parecida.

Há uma imagem de inferioridade e incapacidade que acaba por ser introjetada pelos próprios

grupos populares e que se reflete em uma desvalorização das lutas e organizações comunitárias.

Aliando-se tal discurso ao grande desconhecimento e desinteresse que há sobre a realidade dos

movimentos e dos setores sociais que eles representam, chegamos ao resultado da consolidação

de um discurso pejorativo e negativo. Para citar um exemplo, podemos perceber que a imagem do

MST, hoje, perante a sociedade, especialmente se nos fixarmos na imagem passada pelos

programas de TV e grandes jornais, não é muito diferente do conceito que tinham as Ligas

Camponesas no final da década de 1950 e início dos anos 1960. Essas ligas lideradas por

Francisco Julião (1), no sertão pernambucano, eram tidas por boa parte da classe média como

ferozes grupos de lavradoresrebeldes que ateavam fogo nos canaviais e destruíam tudo o que

encontravam. Dificilmente elas eram vistas como o sinal de uma necessária alternativa à

situação de opressão e penúria na qual viviam milhares de lavradores premidos entre o

subemprego no campo e a miséria das favelas nas grandescidades. O que aconteceu com

esses grupos nós já sabemos: o golpe militar os destroçou, forçando Julião a se exilar no

México. Contudo, a memória dessas lutas é recuperada pelos

movimentos de hoje. A dificuldade de superar o estigma, porém, continua a mesma. É muito

raro, por exemplo, encontrar na TV uma leitura do MST que mostre ao telespectador as inúmeras

experiências bem-sucedidas de assentamentos cooperativos que tentam construir e manter um

modelo de propriedade coletiva, orgânica e comunitária. Não quero dizer que o modelo proposto

pelo MST é o único possível ou a melhor alternativa, entretanto temos de reconhecer que o

movimento chama a atenção para diversos problemas da sociedade brasileira: a iniqüidade que

campeia no meiorural brasileiro, a insuficiência de políticas públicas no campo, a não

realização da reforma agrária no nosso país, ou seja, trata de questões que não são só

do campo, mas também das grandes cidadese do seu caos urbano.

IHU On-Line - Como o senhor tem percebido a criminalização dos movimentos

sociais no Rio Grande do Sul, especialmente no caso que envolveu o Ministério

Público e o MST?

José Carlos Moreira da Silva Filho - Confesso que fiquei escandalizado com as recentes

manifestações do Ministério Público gaúcho contra o MST. Elas ficaram claras a partir

da ação civil pública apresentada pelos promotores Luís Felipe de Aguiar Tesheiner e Benhur

Biancon Junior visando à desocupação de dois acampamentos do MST próximos à fazenda

Coqueiros, na região norte do Estado.

Ação, aliás, que teve a liminar concedida no mesmo dia pela Vara Cível de Carazinho. Tanto

nesta ação quanto no relatório produzido pelo “serviço de inteligência” do MP (e como já havia

notado Marco Aurélio Weissheimer em importante artigo), é palpável a mórbida e preocupante

semelhança com os Relatórios e Inquéritos Policiais Militares, verdadeiras excrescências

jurídicas de triste memória, que eram moeda corrente na ditadura militar brasileira. Posso

afirmar isto com todo o conhecimento de causa, pois como membro da Comissão de Anistia

do Ministério da Justiça me deparo, semanalmente, com essas pérolas. A paranóia

anticomunista é explícita tanto na ação quanto no relatório do Conselho Superior do MP e nas

entrevistas que Gilberto Thums, relator da “investigação”, vem concedendo. O MST e seus

“perigosos” integrantes compostos por mulheres, crianças, idosos e lavradores “fortemente”

armados com foices e outros instrumentos de trabalho do campo são apresentados como “

anti-capitalistas esquerdistas” (como se isto fosse algum crime) que representam uma

ameaça à sociedade e à soberania nacional.

Recomendam-se no relatório alguns absurdos inconstitucionais como a proibição das

marchas do MST (que contraria o elementar direito de ir e vir), a proibição dos assentamentos

próximos às fazendas consideradas passíveis de desapropriação (que ocorrem com a

autorização dos proprietários), a retirada das crianças dos assentamentos, das marchas e

das escolas (ou seja, a retirada dos filhos do convívio dos seus pais e parentes), e, por fim,

a dissolução do MST (que atenta claramente contra o direito e a liberdade de organização).

É bem verdade que esta última e apocalíptica recomendação foi retificada posteriormente

pelo MP, pois certamente até eles acharam isto exagerado. Mas o fato de que tal recomendação

constou explicitamente de uma ata anterior aprovada pelo Conselho Superior do MP é

sintomático. É sintomático também o fato de que a “investigação” levada a cabo pelo MP

se apoiou em uma investigação secreta conduzida pela Brigada Militar, e na qual se realizou

um verdadeiro mapeamento do MST no estado, com nomes de integrantes, localizações e

outros detalhes que revelam um monitoramento ostensivo bem aos moldes dos que foram

realizados pela Ditadura Militar.

Inversão de funções
Ora, cabe à Brigada Militar realizar este tipo de “inteligência”, divulgando em programas de

TV que os movimentos sociais são um caso de polícia? Creio que não pode haver maior

evidência quanto à criminalização dos movimentos sociais e à mal resolvida transição democrática

brasileira que ainda mantém como ocupantes de cargos públicos pessoas que mandaram ou

realizaram prisões arbitrárias, torturas e ostensivo monitoramento ideológico durante o regime

de exceção ocorrido no país. Importante saber também que, contrariando as conclusões da

Brigada Militar e do MP, a Polícia Federal concluiu em inquérito penal promovido durante todo o

ano de 2007, que não há o menor indício ou evidência de vínculos do MST com as Farc ou

qualquer outro tipo de contato com organização estrangeira que vise agredir a soberania nacional.

Investigações favorecem setores privados
Fico me perguntando se a referência ao “Estado Democrático de Direito” vai acabar virando

uma espécie de nova Doutrina de Segurança Nacional no país, pois esta é a justificativa agora

apresentada: “é preciso defender o Estado Democrático de Direito”, afirma Gilberto Thums.

Ora, pensei que o MP tinha em vista o interesse do povo, especialmente dos setores mais

desvalidos e injustiçados. Para que serve a previsão constitucional da função social da

propriedade? No entanto, o relatório do MP não apresenta uma avaliação sequer quanto

aos problemas que vêm sendo enfrentados pelo campo gaúcho e pela massa de trabalhadores

do campo explorados e sem direito a terra para plantar, cedendo cada vez mais espaço

à monocultura destrutiva do agronegócio, tanto no sentido ambiental quanto no humano.

No relatório, não há um autor ou uma fonte sequer favorável ao MST. As provas “científicas”

mais palpáveis são fruto de reportagens de senso comum da Zero Hora, do relatório

secreto da Brigada Militar e dos depoimentos de grandes proprietários. A única fonte

acadêmica referida é o sociólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande

do Sul (UFRGS), Zander Navarro, que, aliás, apesar de tecer severas críticas à organização interna

do movimento, em recente nota pública repudiou veementemente as ações e declarações do

MP gaúcho. Ocorre de fato uma verdadeira inversão de valores: os movimentos que denunciam

a injustiça social são os culpados pela instituição de um regime que traz mais injustiça social.

IHU On-Line - O senhor afirma que nos processos de conflitos podem ser definidos

parâmetros mínimos de legitimação. Os conflitos entre MP e MST ajudaram a definir

esses novos parâmetros, por exemplo? De alguma maneira iniciativas como a proposta

pelo MP reiteram a legitimidade dos movimentos, uma vez que abre-se espaço para

discussão? Ou pelo contrário, essa iniciativa apenas reforça a criminalização, uma

vez que é realizada por um órgão visto como “competente” pela opinião pública?
José Carlos Moreira da Silva Filho - O conflito que ora se instala entre o MP e o MST ainda é

muito recente para que se possa avaliar o que dele resultará. Este conflito pontual é sinal de um

conflito de interesses muito maior entre os que apóiam um modelo de sociedade que não investe

na agricultura familiar e na reforma agrária, que favorece o enriquecimento de certos setores a

despeito de outros, e os que procuram propor alternativas mais inclusivas a este modelo, ainda

que não sejam as melhores ou as mais exitosas. O espaço para discussão acaba acontecendo

mesmo quando o intuito é sufocar este espaço, e creio que isto demonstra um avanço democrático

da sociedade brasileira. Não acredito, contudo, que a intenção dos promotores que participaram

desta ação orquestrada foi a de promover qualquer discussão a respeito do assunto. Muito pelo

contrário, vieram cheios de certezas e apoiaram violenta ação policial militar que teve lugar nas

cidades de São Gabriel e Viamão durante os meses de maio e junho. E, é claro, não hesitaram

em criminalizar o MST, portanto favorecendo notadamente tal tendência.

* Grifos meus.

Notas:

(1) O artigo foi apresentado no evento Jornadas de Estudos Criminológicos ocorrido na PUCRS, em 2007. (Nota da IHU On-Line).

(2) Francisco Julião (1915-1999): advogado brasileiro que defendeu, a partir da década de 50, as causas dos camponeses

organizados, pressionados através de subterfúgios da lei pelos senhores de terra que tentavam desarticular a organização

de ligas camponesas e expulsar de suas terras os moradores do Engenho Galiléia. Para ampliar seu campo de luta,

ingressou na tribuna política e elegeu-se Deputado Estadual em Pernambuco. Foi um dos maiores ativistas pela reforma

agrária no Brasil. Exilou-se no México quando teve seus direitos cassados, em 1964. Foi anistiado em 1979 e faleceu

em Tepoztlán, no México. Sobre sua trajetória, confira o livro escrito pelo jornalista Vandeck Santiago, Francisco Julião:

luta, paixão e morte de um agitador (Recife: Assembléia Legislativa, 2001). (Nota da IHU On-Line)

(www.ecodebate.com.br) entrevista publicada pelo IHU On-line, 28/07/2008 [IHU On-line é publicado pelo Instituto

Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.

Fonte: Revista do Instituto Humanitas Unisinos

Data:01/10/2008

Data: 1/10/2008