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domingo, 20 de dezembro de 2009

Diálogos e conflitos...

A intersecção entre o Serviço Social e a Antropologia Social tem mostrado claramente suas duas faces. Discussões metodológicas e teóricas são diárias. Idealizando a multidisciplinaridade, tenta-se chegar a acordos sobre atendimentos, abordagens e outras formas de aproximação. Contudo, como sempre, a teoria se mostra mais clara e mais fácil que a realidade. Os limites muitas vezes não se mostram claros, como também não são claros como devem ser repartidos os espaços. Uma das Assistentes Sociais mostra toda hora se sentir incomodada com a presença de outro profissional em seu território; é como uma ameaça a sua autoridade profissional diante dos usuários. E isto tem gerado muitos conflitos difíceis de resolver. Diários e mais diários de campo são escritos quase todos os dias, e nele tento enxergar o que não é possível ver na vivência, no cotidiano. Enfim, o negócio é ver que bicho dá!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Cadeira de Barbeiro

Um artigo que tem uma pitada da antropologia das pequenas coisas que fez com que meu dia começasse com mais beleza...

Cadeira de barbeiro
José de Souza Martins


Seu Chiquinho Villano tem 92 anos de idade e há 80 anos é barbeiro no mesmo lugar, na Rua França Pinto, hoje no 617. A Vila Mariana passou e ele ficou, rejuvenescendo-se todos os dias, já de tesoura em punho às 7 h da manhã de cada dia. Recebe os clientes com a calma de fígaro antigo, a conversa pausada e bem humorada. Ouvi suas histórias, suas anedotas de barbearia, com a pudica recomendação de não publicá-las.

Já trocou de cadeira umas seis vezes, sempre na fábrica do velho Ferrante, que conheceu, outra instituição das barbearias brasileiras, uma fábrica do Cambuci. Sobre a bancada, um velho rádio está permanentemente sintonizado em emissora que transmite música clássica. Lembra com saudade da velha Rádio Gazeta, a emissora de música erudita, que tinha sua própria orquestra sinfônica.

Cheguei até seu Chiquinho por meio do Dr. Tito Costa, seu admirador. Cadeira de barbearia já foi o mote de programa da Rádio Tupi, nos anos 1950, “Cadeira de Barbeiro”, com Aloísio Silva Araújo, como barbeiro, e Manuel da Nóbrega, como cliente. Ali se metia a tesoura na vida de todo mundo, sobretudo nas manhas dos políticos. A cadeira de barbeiro é, neste país, uma das mais poderosas instituições de formação da opinião pública: uns 60 milhões de homens maduros nela se sentam ao menos uma vez por mês e ali expressam livremente o que pensam sobre todos os assuntos. Quando cheguei, metiam o pau na Câmara paulistana pelo aumento do IPTU. Cadeira de barbeiro é a única e verdadeira tribuna livre do povo, único lugar da crítica social e política aberta.

Seu Chiquinho teve clientes famosos. Foi barbeiro de Prestes Maia, duas vezes prefeito de São Paulo, a quem admirava, porque não usava carro oficial, usava o bonde. Recusou democraticamente aos ricos Matarazzos, originários da mesma terra de seu pai, Castellabate, na italiana província de Salerno, a permissão para que construíssem um portão particular no Cemitério da Consolação, na Rua Mato Grosso.

Na revolução de julho de 1924, a Vila Mariana foi cenário de combates e bombardeios, muita gente morreu e muita gente fugiu. De carroça, seu o pai, Affonso Villano, levou a família, a mulher, Philomena, e as crianças, para a casa do tio Gustavo, um parente que tinha armazém de secos e molhados na Barra Funda. E lá ficaram refugiados durante o mês dos combates nas ruas de São Paulo, dormindo no chão. Os meninos voltaram a pé para casa, na Rua Humberto I, a mãe na carroça, com criança pequena. Caminharam a manhã inteira. A criançada acabaria se divertindo com os resquícios da guerra: arrancava das paredes as balas incrustadas, para guardá-las como lembrança.

A cultura da cadeira de barbeiro é a rica cultura do cotidiano, da memória sem escrita, da vida sem arquivo nem papel, do que não importa, importando muito.


Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Dentre outros livros, autor de Subúrbio (Editora Hucitec/Editora da Unesp, 2002); A Aparição do Demônio na Fábrica (Editora 34, 2008; Sociologia

da Fotografia e da Imagem (Editora Contexto, 2009); A Sociabilidade do Homem Simples, (Editora Contexto, 2008.



Publicado em O Estado de S. Paulo

[Caderno Metrópole],

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009, p. C8.


domingo, 6 de dezembro de 2009

Antropologia e Serviço Social

Meu sumiço dos últimos dias, tem se dado ao meu novo trabalho, que já citei anteriormente... como meu acesso a internet ficou bastante limitado, a atualização do blog tem sido menos frequente.
Contudo, tenho descoberto um novo universo de diálogo na contribuição entre a Antropologia e o Serviço Social. Muitas idéias vão surgindo em cada dia de trabalho e, enquanto eu me atualizo das políticas públicas e das formas de orientá-las, utilizá-las, as assistentes com as quais trabalham vão tentando compreender novas formas de se aproximar dos usuários ou futuros usuários dos programas sociais, maneiras mais detalhistas de observar a realidade a sua volta e de como estes detalhes podem ser importante para compreender o todo e se aproximar daqueles a quem se busca auxiliar.
Acredito que este trabalho possa render muitos frutos e acrescentar aos profissionais de ambas as partes. Pode ampliar este campo de investigação, bem como, esta atitude precursora da prefeitura de Viamão, de contratar 2 sociólogos e 2 antropólogos para a sua Secretaria de Assistência Social, pode influenciar outros setores públicos, outras prefeituras a abrirem um novo campo de trabalho para o Cientista Social, aprofundando suas pesquisas e análises e compreendendo mais o cidadão beneficiário dos serviços públicos.
Todos só tem a ganhar!